Arte e verdade na estética de Hegel: um diálogo com Hölderlin e Heidegger

Descrição: Como proposta de continuidade de nossa atual pesquisa em torno da estética de Hegel, definida pela investigação da relação entre a estética de Hegel e sua época e herança, pretendemos aprofundar o tema “arte e verdade”, de acordo com o escopo maior estabelecido anteriormente. Com efeito, de um lado, pode-se dizer que uma das marcas características da estética de Hegel, diante de seus predecessores imediatos (Kant e o pós-kantismo) e inclusive mais longínquos (Platão), é a insistência no vínculo entre arte e verdade. A arte é para Hegel não apenas um mero jogo da imaginação com o entendimento nem o campo do que é somente ilusório, mas a expressão sensível da idéia (tomada como ideal), e implica um momento fundamental de reconciliação do espírito com a sua efetividade e história . Por outro lado, se pensarmos a posteridade da estética de Hegel e levarmos em conta que o tema do fim da arte é o ponto crucial e mais atual do pensamento estético hegeliano, vemos que esses tópicos põem em questão a própria possibilidade de a arte ainda exprimir a verdade. Assim, se ao olhar retrospectivamente para a história ocidental e moderna, Hegel verifica os laços entre arte e verdade, esse mesmo gesto reverte dialeticamente e “negativamente” para o futuro, pois implica necessariamente o reconhecimento da dificuldade que a arte tem para “exprimir os nossos mais altos interesses”, num mundo no qual o universal encontra-se emancipado da sensibilidade.
Temos, portanto, indicadas duas frentes possíveis de investigação acerca do tema “arte e verdade” na estética de Hegel: 1) em seu vínculo com o idealismo alemão, apresenta-se a confluência entre arte e filosofia ou entre arte e poesia, implicando uma dignificação do elemento artístico e 2) ao mesmo tempo, no interior desse mesmo idealismo alemão, também já surgem as primeiras manifestações da impossibilidade para a poesia e, portanto, para a arte, de constituir uma referência ao mundo. Cada vez mais se aprofunda a “prosa do mundo” (Hegel) ou a “ausência dos deuses” (Hölderlin) e, com isso, torna-se inevitável o advento do “fim da arte”.
No presente projeto gostaríamos de investigar esse conjunto de problemas e estado de coisas, por intermédio de abordagens envolvendo três autores: Hegel, Hölderlin e Heidegger. Pretendemos acompanhar a passagem da estética moderna para a contemporânea, quando se aguça, de uma maneira inaudita, a relação e a tensão entre arte e verdade. Tomando como centro gravitacional e referência básica de pensamento a estética de Hegel, gostaríamos de 1) aprofundar a relação do idealismo com a arte e a poesia, num paralelo entre a estética de Hegel e a obra de Hölderlin. Avançando nessa temática, tal como ela mesma se configurou para a nossa época, 2) acreditamos que na obra de Heidegger, em particular em sua investigação sobre a origem da obra de arte, é continuada a reflexão iniciada por Hegel, mesmo que com outros pressupostos e em outra situação cultural, em torno da relação entre arte e verdade. Heidegger fez várias interpretações de poesias de Hölderlin, na época mesma (em torno de 1934 a 1943) de concepção de seu ensaio sobre a origem da obra de arte, bem como se refere a Hegel e aos destinos da estética no “Posfácio” a esse mesmo ensaio e compreende a arte como o “colocar-se em obra da verdade” [Ins-Werk-Setzen der Wahrheit].

Docente responsável: Marco Aurelio Werle