História e alegoria no "Fausto" de Goethe

Descrição: Este projeto de pesquisa refere-se ao Fausto de Goethe, opus magnum da literatura alemã e também (em sua heterogeneidade “clássica”) uma obra das mais peculiares de toda a literatura mundial, uma vez que incorporou, ao longo das seis décadas de sua redação, traços pré-românticos do movimento “Tempestade e Ímpeto”, procedimentos simbólicos da estética classicista e, ainda, os recursos alegóricos do estilo de velhice. Pretende-se que dessa pesquisa resulte um estudo alicerçado nos mais proeminentes textos sobre a obra, que possa oferecer ao leitor brasileiro sínteses consistentes das principais posições teóricas na filologia fáustica, ressaltar os momentos de mudança de paradigma na fortuna crítica e construir também uma interpretação da tragédia (em particular do complexo dramático conhecido como “Tragédia da Colonização”) à luz de aspectos tomados ao processo colonizador brasileiro, o que pode significar uma contribuição até certo ponto inédita aos estudos goethianos. A pesquisa está centrada em três grandes eixos temáticos. O primeiro diz respeito à tradição “fáustica” anterior a Goethe, que se inicia em 1587 com a publicação do livro popular Historia von D. Johann Fausten. Sobre essa obra (de importância crucial para o Doutor Fausto, de Thomas Mann) há uma bibliografia imensa, a ser trabalhada de maneira seletiva, isto é, em consonância com os aspectos relevantes para o próprio Goethe. O segundo eixo da pesquisa está voltado prioritariamente ao substrato histórico da tragédia (camuflado com frequência sob a forma alegórica) e, por conseguinte, à sua surpreendente atualidade; abrir-se-á aqui amplo espaço ao papel desempenhado por Mefistófeles, certamente a figura demoníaca mais complexa, irreverente, “carnavalesca” (para usar esse termo central da teoria de Bakhtin) e, sobretudo, moderna de toda a literatura mundial. No terceiro bloco pretende-se contemplar as obras, na literatura posterior a Goethe, que desdobram motivos presentes no Fausto, avultando nomes como Dostoiévski, Fernando Pessoa, Paul Valéry, Mikhail Bulgákov, Thomas Mann ou ainda Guimarães Rosa. Espera-se, com a pesquisa proposta, contribuir para uma compreensão mais aprofundada dessa obra central da modernidade, que reverbera em praticamente todas as literaturas do ocidente (que se pense ainda, em relação à nossa, num poema como “A máquina do mundo” ou num romance como S. Bernardo) e cuja atualidade é ressaltada pelo renomado economista suíço Biswanger (Geld und Magie, 2005) – para dar apenas esse exemplo – nos seguintes termos: “O Fausto de Goethe é de uma atualidade quase que inimaginável. De todos os dramas escritos até hoje é o mais moderno. Ele coloca em primeiro plano um tema que, mais do que qualquer outro, domina os tempos atuais: o fascínio que emana da economia. [...] Quem não entende a alquimia da economia, eis a mensagem do Fausto goethiano, não consegue captar a monstruosa dimensão da economia moderna”.

Docente responsável: Marcus Vinicius Mazzari