Narrativas, crônicas e escritos efêmeros na constituição da memória histórica

Descrição: São Paulo, que viveu seu intenso processo de metropolização a partir do início do sec. XX, constitui um exemplo peculiar de modernidade urbana, que a historiografia recente da cultura tem procurado explorar, nas mais diversas facetas. Mas a vertiginosa metropolização de São Paulo também produziu uma espécie de ofuscamento das lembranças e da memória coletiva. O processo de esquecimento cria uma espécie de vazio de tempo social, que começa a ser preenchido pela cultura ou, mais particularmente, pela invenção de um passado para a cidade que passava por uma profunda ruptura e desenraizamento temporal. O poder de articular uma narrativa histórica fornece a base para o surgimento da própria historiografia. Os registros mais significativos desta "belle époque" paulista - que esta pesquisa pretende percorrer - crônicas, memórias, romances, poemas, correspondência, primeiras gravações sonoras - aparecem hoje ecos dispersos de uma singular espécie de esquecimento. O propósito mais direto dessa pesquisa é estudar uma série de cronistas e autores para os quais não temos nem antologias nem "obras completas"; se nos colocarmos na perspectiva da história da literatura eles serão automaticamente excluídos, pois foram cronistas obscuros, jornalistas de ocasião ou escritores bissextos. Mais próximos da cultura oral, transitando nos espetáculos ligeiros e elaborando roteiros para teatros de revista - e depois em gravações radiofônicas e musicais - pretende-se verificar até que ponto atuaram quase como "intermediários culturais". Trata-se de um universo sócio-cultural que não se enquadrou nos cânones modernistas de 1922, embora já revelasse um olhar com todas as ambivalentes características modernistas. Isto porque, os próprios significados de moderno e de modernismo, foram homogeneizados a partir daqueles cânones.

Docente responsável: Elias Thome Saliba